Aos 41 anos, Jaqueline encara recomeço no vôlei, supera ansiedade e se reinventa como líbero no Pinheiros
Bicampeã olímpica, Jaqueline vive um novo capítulo na carreira ao retornar ao vôlei de alto rendimento após quatro anos afastada. Aos 41 anos, agora como líbero do Pinheiros na Superliga B, a atleta concilia a rotina familiar, enfrenta os desafios físicos e emocionais do retorno e transforma a estreia em um momento marcante de emoção e reinvenção.
Enquanto finaliza a maquiagem na mesa de jantar acompanhando uma série no tablet, Jaqueline recebe de Murilo, o marido, um shake pré-treino. O gesto simples marca o início de mais um dia rumo ao clube Pinheiros, onde a bicampeã olímpica retomou a rotina de atleta profissional. Apesar da experiência acumulada em finais olímpicas e decisões pela seleção brasileira, o frio na barriga voltou a aparecer.
Aos 41 anos, Jaqueline decidiu retornar ao esporte de alto rendimento após quatro anos longe das quadras. Se a modalidade é a mesma, quase tudo ao redor mudou. O corpo exige mais cuidados, a rotina de treinos é adaptada e o papel dentro de quadra é completamente novo. Em processo de reconstrução física, ela ainda não treina em dois períodos como a maioria das companheiras, bem mais jovens.
A mudança também impactou a vida pessoal. Antes, Jaqueline e Murilo viviam em viagens constantes com seus respectivos times. Hoje, a rotina em família é prioridade, com o filho Arthur sempre por perto. A volta ao vôlei exigiu novos ajustes, mas a cumplicidade entre o casal tem sido fundamental nesse processo. Murilo, inclusive, participa ativamente do dia a dia esportivo, auxiliando o técnico Ângelo Vercesi nos treinos da esposa.
A estreia oficial aconteceu na noite de sexta-feira, em partida válida pela Superliga B, diante do Ascade Brasília. O ginásio Henrique Villaboim recebeu público máximo, em um ambiente carregado de expectativa e emoção. Para preservar os joelhos — que já passaram por três cirurgias —, Jaqueline deixou a posição de ponteira, onde construiu a maior parte da carreira, e passou a atuar como líbero.
Em quadra, porém, sua influência foi além da função defensiva. Durante a vitória do Pinheiros por 3 sets a 1, Jaque se comportou como uma liderança técnica e emocional, orientando as companheiras, vibrando a cada ponto e transmitindo segurança ao time. Ao fim da partida, a emoção tomou conta. Em lágrimas, ela reviveu mentalmente toda a trajetória no esporte, desde o início da carreira até aquele novo e simbólico recomeço.
Ainda com o coração acelerado, Jaqueline destacou a importância do momento. Para ela, ver o ginásio lotado, sentir o apoio da torcida e ter a família presente transformaram a estreia em algo especial. Atuando em uma posição inédita, ela reconhece o desafio e o aprendizado constante, mas reforça o compromisso de contribuir da melhor forma possível para que o Pinheiros alcance objetivos maiores na Superliga B.
O retorno ao vôlei profissional mostrou que a Superliga B ocupa, para Jaqueline, o mesmo nível emocional das grandes competições que disputou ao longo da carreira. Em poucas semanas, ela realizou o sonho de ser acompanhada pelo filho nas arquibancadas e comprovou que a reinvenção é possível, mesmo após décadas no esporte.
Esse início marca mais do que uma volta às quadras. Representa um novo ciclo, onde experiência, maturidade e paixão pelo vôlei se unem para manter viva a essência de uma atleta que aprendeu, mais uma vez, a recomeçar.



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