Barrada do Mundial, Tifanny Abreu é homenageada e ovacionada após bronze do Osasco
Oposta impedida de atuar pela FIVB sobe ao pódio com o time, se emociona com apoio da torcida e critica decisão do Comitê de Elegibilidade de Gênero
Impedida de disputar o Mundial de Clubes pelo Comitê de Elegibilidade de Gênero da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), Tifanny Abreu foi o centro de uma das cenas mais marcantes da competição neste domingo. Após a conquista da medalha de bronze pelo Osasco, a oposta foi homenageada pelas companheiras de equipe, subiu ao pódio e recebeu uma forte ovação dos torcedores presentes na Arena Mercado Livre Pacaembu.
Visivelmente emocionada, Tifanny celebrou a conquista ao lado das jogadoras e da comissão técnica e destacou o significado do momento. A atleta afirmou que a medalha representava tudo o que ela viveu e ainda enfrenta fora de quadra, ressaltando o apoio recebido do grupo e da arquibancada. Segundo ela, apesar de ter sido impedida de jogar, o vínculo com o time e com o esporte permaneceu intacto.
Durante a entrevista após a partida, Tifanny fez um discurso contundente. Disse que não cometeu nenhuma irregularidade, que cumpre todas as regras exigidas e classificou a situação como absurda. A oposta também destacou que afastar uma pessoa trans do esporte representa um ataque direto ao espaço de inclusão e à própria sociedade, reforçando que não pretende desistir da luta.
Desde o início do Mundial de Clubes, Tifanny acompanhou o Osasco em todos os jogos. Em cada anúncio da escalação da equipe, a torcida fazia questão de gritar o nome da atleta ao final, como forma de apoio. O gesto se repetiu nos momentos decisivos da competição e ganhou ainda mais força após a vitória sobre o Praia Clube.
Com o triunfo por 3 sets a 0 na disputa do terceiro lugar, a homenagem se tornou ainda mais simbólica. A central Valquíria pegou uma camisa de Tifanny, mostrou para todo o ginásio e a levou ao pódio, reforçando o sentimento de união do grupo. A jogadora destacou a amizade de longa data entre elas e afirmou que Tifanny é parte essencial do time, independentemente de estar ou não em quadra.
Valquíria afirmou que a oposta treinou normalmente durante toda a preparação, esteve presente em todos os momentos e merece reconhecimento não apenas como atleta, mas como pessoa. Para a central, Tifanny se tornou um ícone que ultrapassa o Osasco e representa o voleibol mundial.
A ausência da oposta foi considerada uma baixa importante para a equipe comandada por Luizomar. Embora a FIVB não tenha uma proibição explícita à participação de atletas trans em suas competições, a inscrição de Tifanny dependia da aprovação do Comitê de Elegibilidade de Gênero, instância máxima da entidade para esse tipo de avaliação.
O Osasco tentou, até os últimos momentos, obter a liberação da atleta para o Mundial. O processo, no entanto, seguiu em análise durante a competição e a autorização não foi concedida a tempo, transformando Tifanny em desfalque oficial.
O Comitê de Elegibilidade de Gênero da FIVB pode considerar fatores fisiológicos, médicos, esportivos e outros elementos apresentados pelo atleta, incluindo aspectos relacionados à puberdade vivenciada. O órgão é composto por um especialista jurídico, um especialista médico e um atleta indicado pela Comissão de Atletas da entidade, respeitando critérios de diversidade de gênero.
Mesmo fora das quadras, Tifanny terminou o Mundial como uma das figuras mais lembradas do torneio. A imagem da oposta no pódio, abraçada às companheiras e aplaudida de pé pela torcida, simbolizou não apenas a conquista do bronze, mas também um debate que segue aberto no esporte de alto rendimento.



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