Da base do Avaí ao topo da Premier League: como Gabriel Magalhães virou símbolo de um novo modelo de formação
Zagueiro do Arsenal e nome frequente na Seleção Brasileira transformou a forma como o Avaí vê sua base e revelou talentos para o futebol mundial
Gabriel Magalhães vive hoje o auge: titular absoluto do Arsenal, peça importante em uma das defesas mais respeitadas da Premier League e presença constante nas convocações da Seleção. Mas o ponto de partida dessa trajetória foi modesto uma aposta do Avaí em um adolescente tímido, canhoto e de biotipo raro, que mudaria a maneira como o clube catarinense enxergava a própria base.
Diogo Fernandes, coordenador das categorias de base do Avaí por quase uma década, acompanhou cada etapa da formação de Gabriel e de Raphinha, outro expoente revelado pelo clube. Em entrevista, ele detalha o processo que transformou talentos subestimados em ídolos internacionais e como isso reposicionou o Avaí no mercado.
Segundo Fernandes, Gabriel virou símbolo de uma safra de jovens que o Avaí contratou antes mesmo que o futebol brasileiro percebesse seu valor. O resultado foi um modelo mais lucrativo, com vendas diretas ao exterior e maior percentual mantido pelo clube.
Ele lembra que, naquele período, o Avaí não disputava atletas com grandes potências nacionais. “A gente acreditava mais do que o mercado. E, anos depois, começaram as ligações pedindo Gabriel, Guga, Raphinha, Marcão, Anderson Lopes, Luciano… Foi uma geração de afirmação.”
Gabriel chegou ao clube aos 14 anos, vindo de uma escolinha de Osasco. Não foi amor à primeira vista: na primeira semana, o garoto chorou, desistiu e voltou para casa. O Avaí o aceitou de volta mas com a condição de enfrentar o desafio se realmente quisesse ser jogador.
Chamou atenção por ser alto, canhoto e disciplinado. Enquanto Raphinha surgiu com talento evidente, Gabriel se desenvolveu como “uma esponja”, absorvendo orientações e evoluindo em todas as categorias até se firmar como titular.
A virada de Gabriel aconteceu em 2016, quando substituiu Marcão então destaque da base e observável para a Seleção após uma punição disciplinar. O jogo-chave era contra o Flamengo na Copa do Brasil Sub-17, e a CBF estaria presente.
Gabriel, até então reserva, não só deu conta do recado como virou titular nos meses seguintes. O desempenho o levou à convocação para o Sul-Americano Sub-20 e abriu portas para o profissional.
Mais jovem da sua geração, nascido em dezembro, Gabriel enfrentou adversários fisicamente mais prontos e vivenciou a pressão do Avaí, clube que depende de acessos para sobreviver financeiramente. Oscilou, errou e amadureceu. Em 2016, foi eleito um dos melhores zagueiros do Campeonato Catarinense e ajudou o Avaí a subir para a Série A.
Essas experiências, segundo Fernandes, foram essenciais para moldar o defensor que o Arsenal compraria anos depois.
A negociação para o Lille marcou a nova postura do Avaí: vender jovens com potencial diretamente para clubes europeus, aumentando ganhos e diminuindo intermediários. Gabriel completou todas as etapas no clube infantil, juvenil, júnior e profissional antes de deixar o Brasil.
No Arsenal, virou protagonista. Desde sua chegada, é o zagueiro com mais participações em gols na Premier League: 18 gols e três assistências. Desde 2020, ninguém marcou mais entre defensores nas cinco grandes ligas europeias.
A história de Gabriel Magalhães extrapola sua carreira: representa o sucesso de um modelo construído com convicção e paciência. O Avaí, que antes lutava contra o mercado por reconhecimento, passou a formar e vender talentos com retorno técnico e financeiro. E o zagueiro, hoje referência na Seleção, é o melhor exemplo de que apostar no potencial e não apenas no momento pode transformar destinos.



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